O que tem a AEFEUNL a dizer sobre a ida de Cavaco Silva ao Auditório da Reitoria no passado dia 3? Nada. Muito bem, pois também não tem nenhuma ligação politica (por enquanto) e não estávamos à espera de mais... Certamente, a AEFEUNL poderá dizer que o auditório estava cheio, que se enchia de Cavaquistas tanto velhos como novos... e que por entre tantos sorrisos " laranja-friendly " apenas um punhado de alunos (e quiçá, professores) estava a pensar "Venha, e diga-me, senhor Professor, porque hei de votar em si? Com tantas outras pessoas em quem por a minha cruz... porquê o professor? ". Quem é Cavaquista, em principio é Cavaquista... e quer ele fosse lá fazer o melhor discurso da vida dele (aviso já: Não aconteceu) ou o pior (...) quem ia votar nele, não mudou de opinião naquele dia. Eu fazia parte daquele pequeno punhado de pessoas. Uma céptica eleitora ainda indecisa, de sobrancelha elevada - confesso! - mas queria saber, porque tinha um verdadeiro interesse... o que teria Cavaco Silva a dizer. |
Se a AEFUNL não pode elogiar o discurso, foi porque pouco ou nada havia para elogiar. Começou antes de mais, como um discurso de quem quer ser eleito em legislativas, e não presidênciais. Falou-nos do desemprego, falou-nos da necessidade de um 'choque tecnológico' - sem usar as palavras de Sócrates - ...
Conseguiu a meio do seu discurso, arranjar 10 minutos para chamar a Katia Guerreiro... que falou algremente sobre como era bom o Cavaco Silva. Tem filhos... Tem netos... Esteve no governo durante anos...
Parece que se são esses os únicos argumentos que ela consegue arranjar, que são um bocadinho fracos. Ora então, é o único candidato com filhos ou netos? E já agora... o único que esteve no governo? Os seus comovidos olhos iam-se enchendo de lágrimas, mas felizmente, a Fadista, habituada a comover-se, conseguiu conter tal demonstração pública de sentimentos.
Em alturas como esta, gosto de me lembrar das palavras de Miguel Sousa Tavares [MST] - não sendo uma pessoa de quem goste particularmente - cujas palavras nos deveriam ter feito a todos exclamar; "HA! Agora é que alguém disse tudo!"
Mário Soares como ele próprio não se cansa de recordar, a título de prova de vida — passou estes dez últimos anos sem resguardo algum: fez uma fundação, foi deputado europeu, publicou dez livros (!), viajou, fez conferências, palestras, presidiu a comissões, desfilou contra a Guerra do Iraque.
"Puf!"— suspira Cavaco Silva, com desdém, ao relembrar as andanças do seu rival —, "um político profissional no seu pior!" Ele, Cavaco, fez o inverso: tratou de acabar a sua vida académica tranquilamente, publicou um livro, após sair do governo e onde inventariou as "reformas de uma década", que jura ter feito, mas que, curiosamente, são hoje universalmente reconhecidas como as mais urgentes ainda por fazer, e reservou-se para ocasionais aparições públicas, sempre devidamente publicitadas pelos inúmeros homens-de-mão que deixou semeados pela imprensa e sempre recebidas pela pátria como verdadeiros textos de referência, senão mesmo de culto. Soares falou tanto nestes dez anos que não nos lembramos de coisa alguma marcante que tenha dito. Cavaco falou tão pouco que, para a história, ficou apenas aquela frase dos tempos de governação de Santana Lopes de que "a boa moeda deve afastar a má". Foi um pensamento profundo e corajoso: antes dele, ninguém ainda tinha pensado numa coisa dessas e ninguém ainda se tinha atrevido a questionar os méritos governativos de Santana Lopes e do seu extraordinário séquito.
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O Mestre Dos Silêncios de Miguel Sousa Tavares in PÚBLICO . SEXTA-FEIRA, 4 NOV 2005
De facto, está muito bem dito.
Este artigo saiu no dia a seguir a Cavaco Silva ter ido à Nova. Gostaria que assim não tivesse sido, pois gostaria de ter ido preparada para o que fui lá ouvir.
Confesso que nunca tinha ouvido "O Professor" (como é tratado por entre os reverentes idolatras) a falar... por isso quando fui, deixei verdadeiramente os preconceitos para trás. Não quero que me vejam como uma cínica sempre cínica... que vai a todas apenas para ouvir o que de mau têm eles a dizer... mas o que é facto, é que desde o momento em que todos se puseram de pé para aplaudir a entrada de O Professor sabia que aquilo não ia correr muito bem.
Se MST diz que;
Sempre foi assim, também, nos seus dez anos de governo. Cavaco Silva sempre desprezou as ideias políticas, o debate, a ideologia, a agenda, a definição de um horizonte ou de um projecto para Portugal. Quando questionado, respondia com os 1400 quilómetros de estradas novas, os 210.000 carros comprados, as 600.000 criancinhas nascidas durante os seus anos de esplendor.
Digo-vos - certamente com tristeza - que continua assim.
Palavras de abertura ipsis verbis:
"É para mim uma enorme alegria regressar a esta reitoria, da Universidade Nova, e falar perante uma plateia tão vasta de estudantes. Traz me á memoria aquelas aulas dos anos 70, em grandes anfiteatros, mas de qualquer forma, com uma dimensão muito mais pequena."
"Estou aqui com todos sabem porque no passado dia 20 decidi apresentar aos Portugueses a minha candidatura à presidência da republica. Candidatura pessoal e independente de toda e qualquer estratégia partidária, não fiz nem farei qualquer negociação com interesses partidários ou de grupo. Devo-os dizer que não foi uma decisão fácil. Alguns de vos podem não perceber por que é que não foi uma decisão fácil."
Então porque não foi fácil ?
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" " Não foi para mim uma decisão fácil em primeiro lugar por que já fui primeiro ministro durante alguns anos e sinto me de bem com a minha consciência, quanto a esse tempo da minha vida.
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Se segundo lugar porque gosto da minha actividade profissional como economista e como professor universitário. Nos últimos anos tenho vindo a regire três cadeiras por ano [...]
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Em terceiro lugar faço parte de 2 grupos de ex-primeiros ministros [...] que se ocupam de matérias interessantes de aconselhamento ao mais alto nível
Porque é um senhor muito importante... que gosta do seu conforto. Muito bem. Passando adiante.
"Mas outras razões se impuseram... razões que se prendem acima de tudo com o futuro do país!"
Ainda estamos a falar sobre por que é que foi difícil?
"A razão determinante da minha decisão foi precisamente o futuro dos jovens! O vosso futuro! O Futuro dos meus filhos! Tal como em Março do ano passado, tinha afirmado na televisão, só encararia a possibilidade de me candidatar à presidência da republica em circunstancias muito especiais ligadas ao futuro do país!"
Faz sentido até aqui, não faz?
"Foi precisamente isso que aconteceu. Conhecendo eu como conheço, a situação difícil em que o país se encontra, bastante difícil, conhecendo eu as complexidades do mundo em que se insere o nosso país, entendi, entendi, que não ficaria de bem com a minha consciência, se não me Disponibilizasse para fazer tudo o que está ao meu alcance para que as gerações mais novas - os jovens - não recebessem uma herança demasiado pesada, que lhes dificultasse a vida, mas que recebessem sim uma oportunidade nova, uma janela de possibilidades mais uteis para o começo ... ."
Que nobre.
"Isto porque estou convencido - inteiramente convencido - de que é possível inverter a situação em que o país se encontra..."
Ora bem! Como? E como é que um presidente faz isso? " Presidência da República: É um lugar destinado exclusivamente a fazer política, não a governar ou a fazer obra. " [MST]
"...e que é possível regressar novamente à trajectória de aproximação dos níveis de desenvolvimento da União Europeia e da nossa vizinha Espanha. Isto porque, acredito na capacidade dos portugueses, eu sei que os jovens portugueses são capazes, têm talento... têm energia, são inconformistas, têm capacidade de vencer. E sei isto por experiência própria, porque os encontro na universidade, por que os encontro em empresas modernas abertas à inovação e à concorrência, porque os encontro nos institutos de investigação, porque os encontro lá fora[!!!] em posições de liderança em empresas ou universidades, porque sei muito bem, como voçês que foram estudantes Erasmus poderam verificar, que eram tão bons como os dos outros países ..."
[Por falta de tempo, isto fica inacabado... mas um dia acabo...Peço desculpa]